quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Desejo a ti belos dias

Tenho visto lindos dias, são tão belos que vezenquando penso estar vivendo dias belos também, penso estar vivendo os mesmo lindos dias que vejo. Doce ilusão. Utopia que é logo quebrada: coloco a mão no bolso da calça, tateando até esbarrar no celular, o gesto é tão comum que chega a ser impensado, mas ao triscar no celular afasto imediatamente a mão, como se uma descarga elétrica tivesse atingido o celular e ele estivesse dando fortes choques-elétricos, choques-de-realidade. E o tal choque varre a utopia: não posso te ligar, nem uma mensagem, nem um “bom dia”. Não mais. Já ousei demais, mandei-lhe um e-mail com poucas palavras em um ato desesperado, não houve resposta, eu estava consciente que a resposta não viria. Mas ainda checo minha caixa de entrada duas ou três vezes ao dia, outro ato de desespero. E entupo minha caixa de rascunho com e-mails que deveriam ser enviados a ti, em mais outro ato de desespero. Ando desesperada, desnorteada...
Lembro do dia lindo, mas não ouso pensar que posso, quem sabe por um milagre, estar vivendo um lindo dia. Estou olhando por uma grande janela, sim é isso. Eu assisto aos dias, um por um, através de uma grande janela, mas é gradeada e pelas grades passam uma forte corrente elétrica – talvez, por isso que levei o choque ao pegar no celular, ou porque eu estava querendo invadir um lugar que não me pertence, levei o choque e foi merecido. Os dias belos não me pertencem ou eu não pertenço a eles. Não nos pertencemos, essa é a verdade.
Mas volto a pensar, sem mais a doce amarga-ilusão ou utopia, o quão eu queria poder completar aquele ato de pegar o celular, discar seu numero que sei de cor, salteado e de trás para frente, esperar tocar duas-três-quatro vezes e ouvir uma voz mansa e sonolenta – pois você só acorda depois das dez e eu antes das seis, mas pouco importa a hora do dia: sua voz é sempre mansa e sonolenta, o calmante ideal para meus devaneios.  Sei que ao ouvir seu suspiro, você sempre atente aos telefonemas, ao menos aos meus, com um suspiro que de súbito acelera meus batimentos e logo depois os acalmam, é tão gostoso a disritmia cardíaca que você me causa. Você começa a conversa, sem formalidade, talvez um ‘bom dia, boa tarde, boa noite’, mas creio que será com um comentário: sobre o que sonhou na última noite, sobre algo que viu/ouviu/sentiu e que queria compartilhar comigo – como eu: eu queria lhe dizer como o dia estava lindo, como eu queria poder viver este dia contigo. Mas você às vezes fala mais, quando está empolgado com alguma coisa faz poucas pausas para ouvir meus comentários, mas creio que eu iria falar mais, afinal tinha um belíssimo dia para descrever minuciosamente a você. Você pediria uma foto, faria perguntas interessado, faria comentários e me faria sentir-me completa e não apenas observando o dia, mas talvez, o vivendo mesmo que a margem. Posso ouvir sua voz sussurrando em meu ouvido, a saudade se apossa de mim ainda mais, como se houvesse maneira de sentir mais saudade que eu estava sentindo. Tais pensamentos enchem meus olhos d’água, as lágrimas salgadas-e-ácidas voltam a queimar meus olhos opacos e moldados em pesadas olheiras.
Fito o Céu, fito o dia por um longo tempo, estou sem pressa, não me preocupo com as horas, afinal horas são apenas a medição do tempo e o tempo que eu tenho tem sido apenas o relógio m dizendo que as horas têm passado, cada vez mais devagar e eu fico apenas divagando. E desejo, com toda a força que tenho, que você possa estar vivendo este dia lindo e que em algum momento eu esbarre em uma janela que me permita ver você, te observar através das grades de realidade-elétrica, apenas observar e ter mais uma doce ilusão que você, inconscientemente, desejasse que eu estivesse tendo um bom dia, também. Ou ao menos, iludir-me pensando que você vez em outra, em pouquíssimos instantes durante seus dias ou noites, em devaneios ou em sonho, pensa em mim e que um dia, mesmo que demore, vai fazer meu celular tocar novamente e meus batimentos adquirirem um novo ritmo.
E as horas continuam a passar, vezenquando arrastando-se preguiçosamente e vez em outra ligeiras, apressadas. E eu vou divagando como a fumaça dos cigarros que trago, observando através das janelas gradeadas os dias, lindos ou não. 

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