domingo, 5 de setembro de 2010

Anjos, com todo perdão da palavra.






- Posso te chamar de Anjo?
- Anjo? Ah, não, não. Anjo é um substantivo muito forte, até mesmo para um apelido carinhoso.
- Eu sei, justamente por isso que acredito que ele conseguiria exprimir um pouco do que você representa para mim.
- E o que eu represento para você?
- Um Anjo. Um Anjo salvador.
- Como assim?
- Você apareceu quando eu estava jogada às traças, sem a mínima vontade de me reerguer ou de fazer qualquer outra coisa. Você abriu uma pequenina fresta na janela, deixando que entrasse um pouco de luz e esperança. Mas foi prudente, não deixou a esperança me iludir e nem a luz me cegar. Deu-me a sua mão de dedos longos e finos, me ofereceu seu silêncio e sua solidão. Não me cobrou nada, não roubou minha solidão e nem meu silêncio... apenas os completou. Deu-me companhia. Me fez voltar a sonhar, mas não me fez acreditar cegamente nos meus sonhos... Você me deu esperança sem me iludir. Mostrou as limitações e as barreiras, e me disse que não seria fácil quebrá-las, mas se eu precisasse que uma forcinha extra, poderia contar com você. Foi um verdadeiro Anjo.
- Anjo...
- Anjo!
- Bem... Se for assim, você foi mais Anjo para mim do que eu fui para você.
- Quê?
- Você foi transparente comigo, me deixou conhecer suas feridas e me ajudar a cuidar de ti. E cuidando de ti, conhecendo suas feridas eu conheci as minhas. Ao me deixar estar contigo minhas feridas foram cicatrizando. Você... com você tive a solidão compartilhada que tanto procurei. Algo utópico que eu já havia deixado de acreditar. Você me permitiu abriu um frestinha da minha janela, você me motivou a te motivar. Você me devolveu as cores e a luz. Você foi o Anjo. Salvou-me de mim mesmo...
- “Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.”
- Eu pensei exatamente nesta citação de Caio... Mas você foi mais rápida e mais ousada.
(...)
- Então você é uma alma especial. Um Anjo.
- Não, nós somos almas especiais, meu Anjo. 

Um comentário:

  1. Mais uma vez deixou-me sem palavras. Belíssimo texto. Ótimo descritivismo (perspicaz).
    " Algo utópico que eu já havia deixado de acreditar. Você me permitiu abriu um frestinha da minha janela, você me motivou a te motivar. "

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