domingo, 5 de setembro de 2010

A Companhia da Lua ao Som de Beethoven



Era finalzinho de tarde de uma segunda-feira de outono. O pôr do Sol deixava o céu num tom alaranjado, uma brisa fria tocava as folhas das árvores fazendo com que elas dançassem. Há uma quadra dali, um jovem rapaz, com pouco mais de vinte anos, fechava a porta de casa e acendia um cigarro indo até o ponto de ônibus a caminho da faculdade.
Naquela segunda-feira ele decidiu esperar pelo ônibus um ponto antes, entrando em uma rua estreita há uma quadra de sua casa ele ouviu o som de um piano saindo de uma velha construção de tijolinhos. O prédio tinha três andares, as grandes janelas de vidro estavam abertas deixando mais nítido o doce som do piano. Um grande letreiro com algumas luzes queimadas cobria parte da lateral do prédio. Piscando nele dizia Estúdio de Ballet Clássico.
O som do piano varreu para bem longe toda pressa que o rapaz tinha de chegar à faculdade. Sentou-se em uma calçada a frente do prédio. Ele olhava pelas janelas abertas as sombras das bailarinas rodopiando e flutuando ao som de uma das gloriosas sinfonias de Beethoven.
O céu de alaranjado foi ficando um tom azul escuro, as estrelas iam aparecendo timidamente fazendo companhia a Lua, era Lua cheia e brilhava, iluminando a rua. As luzes no prédio iam sendo apagadas, as bailarinas e as outras pessoas que o ocupavam também o deixavam mais vazio. Mas a música continuava. Todas as janelas e luzes estavam apagadas, exceto uma.
O rapaz já não sabia por quantas horas estava sentado naquela sarjeta ou quantas músicas haviam sido tocadas pelo pianista. Ele apenas queria ficar ali, pelo resto da noite ou pelo resto do outono.
Seu celular vibrou no bolso do jeans surrado que ele usava, ele pegou imediatamente o celular e viu que era apenas uma mensagem da operadora. Mas não pode deixar de notar que já se passava de uma hora da manhã. Ele, então, se levantou. Suas pernas vacilaram nos primeiros passos pois havia ficado por muitas horas na mesma posição, não sabia porque não havia sentido cãibras. O grande e pesado casaco preto o impedia de sentir a brisa fria do início de madrugada.
O rapaz acendeu seu cigarro e caminhou até sua casa, o doce som do piano ainda estavam em seus ouvidos. Ele observava a lua enquanto caminhava, e constatou que a Lua era a melhor companhia que ele já havia tido. Naquele restinho de madrugada ele não dormiu, ficou na janela com a sua companheira...

E ele nunca mais teve uma noite daquela. Mas até hoje o som do piano ocupa as suas noites com a Lua cheia. 

2 comentários:

  1. Eu sempre cito o descritivismo em seus textos, pois não sei se fazes de propósito ou não. Se não o fizer, meus parabéns, você possui um dom natural descrito em suas palavras.
    "Ele olhava pelas janelas abertas as sombras das bailarinas rodopiando e flutuando ao som de uma das gloriosas sinfonias de Beethoven. "

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  2. Agradeço seus comentários, Hank. Sinto-me motivada a postar aqui por saber que alguém ler mesmo não tendo divulgado o blog.
    Ah, e quanto ao 'descritivismos', não o faço de propósito... apenas flui.

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